Todos nós gostamos de explorar a natureza, seja para sentir de perto a sua beleza, para escapar das nossas rotinas ou simplesmente imergir na paz que nos proporciona. Seja qual for a razão pela qual o fazemos, a verdade é que nem sempre pensamos no impacto ambiental das nossas aventuras. No entanto, toda a nossa ação tem um impacto na natureza que não podemos deixar de considerar e avaliar.
Existem quatro tipos de ações humanas que podem ter impacto na natureza: as ações descuidadas, as não qualificadas, as desinformadas e as ilegais.
Praticamos ações descuidadas quando não pensamos realmente no que estamos a fazer, e podem passar, por exemplo, por apanhar flores silvestres, deitar lixo para o chão ou caminhar fora do percurso marcado.
As ações não qualificadas ocorrem quando fazemos algo que sabemos que devemos fazer, mas não temos as competências certas para fazê-lo, como construir uma fogueira de baixo impacto enquanto acampamos.
As ações desinformadas ocorrem quando agimos sem a consciência do impacto que isso terá na natureza, por exemplo, ao alimentar animais selvagens.
Finalmente, as ações ilegais são quando há violações dolosas ou negligentes às leis ou regulamentos, tais como caçar em zonas não permitidas, foguear quando não é permitido ou percorrer áreas florestais quando isso está interdito.
Seja de que forma for, quando não seguimos o princípio básico de qualquer pedestrianista “não deixar rasto”, ficam para trás vestígios da nossa passagem que afetam negativamente a vida selvagem, os percursos, o meio ambiente e, em última instância, as próximas gerações.
Quer nos apercebamos ou não, mesmo as atividades de baixo impacto podem afetar a vida selvagem, sejam elas caminhadas, a prática de BTT ou simplesmente a observação de pássaros. O desafio é encontrar um equilíbrio entre a atividade ao ar livre e a proteção da natureza.
Quando um grupo grande de pessoas se reúne numa mesma área, isso condiciona a vida selvagem e pode ter efeitos de longo alcance. Por exemplo, o ruído e a agitação causada, quando em maior escala, podem afetar os ciclos de reprodução dos animais e ter como consequência a redução do número de exemplares de uma espécie ou, em situações extremas, a sua extinção.
Além disso, o lixo ou alimentos deixados para trás, como embalagens plásticas descartáveis, latas ou garrafas de água, podem afetar os animais e, potencialmente, as suas crias. Os animais transmitem os seus padrões às crias, ensinando-lhes o que evitar ou o que procurar, qual o melhor o alimento, etc. Quando as pessoas alimentam animais selvagens, isso potencia a maior interação humana. Quando falamos de pequenos animais, como o esquilo, o risco imediato não aparenta ser grande, mas o mesmo não pode dizer-se dos felinos ou até dos grandes predadores.
É, por isso, importante evitar, por princípio, a interação humana com os animais. Os animais selvagens não são animais de estimação e, por isso, não devemos aproximar-nos deles ou trata-los como tal. Fazê-lo afeta o bem-estar do animal (precisamos manter os animais selvagens) e é extremamente irresponsável e perigoso para os humanos. Coloca em causa a integridade física de quem contacta com eles, de uma forma imediata, e de toda a comunidade, uma vez que os animais selvagens são reservatórios de vírus inócuos para a sua saúde, mas cujo efeito nos humanos se desconhece.
Quando os mesmos lugares são massivamente visitados, torna-se necessário regular o acesso e o número de visitantes. Isso demonstra que descobrir novos lugares pode ajudar a mitigar o excesso de turismo. Ninguém gosta de locais superlotados que afetam a capacidade de os visitantes apreciarem a paisagem e, realmente, fugirem da sua rotina diária. A paz que procuramos na natureza é totalmente destruída quando competimos por um lugar de estacionamento ou temos gritos e lixo à nossa volta. Sem prejuízo da afetação dos recursos naturais, da degradação da paisagem e dos locais, a primeira afetação negativa é a nossa experiência como visitante.
Visitar lugares que não sejam tão populares ajuda a deslocar o impacto que multidões de pessoas têm num único lugar. No fundo, poderemos aprender tanto sobre nós e sobre o local, explorando um lugar impopular – embora único – como se visitarmos um espaço popular. Além disso, provavelmente, as nossas fotografias terão menos pessoas!
Numa situação extrema de superlotação, quando há muitas pessoas a usar o mesmo percurso repetidamente, sem dar descanso, isso acaba por alargar os trilhos de pé posto e pode matar a vegetação lateral potenciando a perda de biodiversidade e a erosão.
O pisoteio provocado nos percursos pedestres pode ter um efeito de ondulação e compactação, destruindo o solo e diminuindo a permeabilidade ao ar e à água, o que, tendencialmente, aumenta o escoamento da água e acelera a erosão. O solo suporta uma incontável variedade de vida e é constituído por cinco componentes: matéria mineral, ar, água, matéria orgânica morta e organismos vivos. A camada superficial é constituída principalmente por matéria orgânica e é fundamental para a saúde do solo, biodiversidade e crescimento das plantas. Quando o pisamos, as raízes das plantas têm mais dificuldade em penetrar no solo. Se as plantas não conseguem enraizar-se, isso pode levar à perda de biodiversidade.
Quando danificamos arbustos e árvores (ao criar clareiras ou para nos desviarmos do trilho), a vegetação dessas áreas pode tornar-se estéril e tudo isso leva a uma reprodução reduzida da vida vegetal.